terça-feira, 13 de outubro de 2009

[Conto] Baladas do Relógio

Precipícios, tormentos, queda sem fim... um infindável poço seco sem águas vivas.

Mas tudo começou numa noite chuvosa, como esta de hoje.

Lembrou-me muito bem...

Estava debruçado os ombros na janela fechada, vidro embaçado, poças por todos ladrilhos da velha rua lá fora. O Tic-tac do antigo relógio, herança de meu avô, começou a tirar-me do desvaneio em que me encontrava. Já eram quase 11 horas da noite, tarde para uma pessoa comum ir repousar sobre uma cama, entretanto, para mim, era só início de um longa noite.

Mais tic-tacs, tic-tacs, tic-tacs, algo em mim me fazia repugnar esta sonoridade. Maldita relíquia de família, mas como diz o dito popular: 'Cavalo dado não se olha os dentes', além de que esta é uma sina que devo carregar para toda vida, se é que isto que tenho é digno de ser chamado de tal modo. Creio que não vivo, mas sim, sobrevivo, como posso, com as poucas forças que me restam, rastejam noite após noite, dia após dia, segundo atrás de segundo... esperando o maldito tit-tac final badalar no relógio de meu avô. O último segundo de vida, o início da perseguição que me espreita desde aquele dia em que jogue tudo por alto, em troca de glórias, recompensas de curto prazo, dei o que tenho de mais precioso.

Tempo... quanto tempo dispersei em vão, agora o que tenho - ou tinha - de mais valioso se esvairá em questão de quase 1 hora daqui em diante.

Era para estar aqui chorando, lamentando meu impagável e irreversível erro, mas não, assumo minha culpa por esta escolha mortal. Por isto estou aqui trancafiado nesta quarto, longe dos seres que amo. Afinal, assim sofreremos menos quando Ela vir me buscar daqui 5 dezenas de minutos. Já a vejo, frente a mim, na porta, sorrindo e dizendo com a maior sutileza:

- "Olá, sou a Morte, vem aqui cobrar a sua parte no pacto que fez. Venha comigo, agora!"

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Enfim, isto já faz anos, e quem vos conta esta história é uma alma, falecida há 7 anos.

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