quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Cordel I - Manoel

Aqui inicio riscos e rabiscos.
A história d'uma vida n'um papel.
Ele não vive no sertão, nem cantão.
Vive aqui, na terra e no céu.
Não falo em estado de loucura, biruta.
Vos, então, apresento o exótico Manoel.

Seu lar é simples
um casébre húrmide.
No almoço farinha e macarrão
É pobre, sem dificuldade.
Racha o quarto com a família.
No chão seu colchão se extende.

O seu dia começa cedo,
vai cortar cana no canaviar.
A quentinha fria e atrasada,
seu almoço tardio, sem caviar.
Da barriga vazia não reclama
"- pra que lamentá?".

Fim da tarde, vorta prá casa,
carro cheio, o velho pau-de-arara.
Nele busca um cantinho com jeitinho
pra sentar, já que viajara.
Suor aqui, ali, acolá
De tanto trabaiá, seu corpo chora.

Mesa posta ao chegá ao lar.
Sua mãe manda tomar o banho.
Rostim limpim, banho tomadim
come feliz um bicho de rebanho.
Alegre ruma ao colchão ao chão.
Dorme como um anjo risonho.

Segunda, terça, quarta, quinta, sexta.
Eita, chega cansado.
Mão e pé calejado, corpo quebrado.
Mas, sossegado, hoje é santo sábado.
Um prato sob o sol que raia
e enche de bela feijoada o prato.

Canto de galo, cheiro de mato,
de sua janela o sol raiando.
Curte a vida, curte a família,
vive de alegria jamais lamentando.
Viu um dia este cordel, pendurado o papel,
sobre sua vida narrando.

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