quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Filosofia Moderna: sua importância e aplicabilidade prática

A Filosofia Moderna é um marco importantíssimo para o pensamento ocidental, um “divisor de águas”, pois quebra radicalmente com as tradições filosóficas anteriores, contudo ainda sem deixar de ter influência destas, negando ou reafirmando ou reformulando algumas de suas idéias. Além de ter acompanhado o desenvolvimento da classe burguesa, e até ter sido como ponto de apoio em defesa do ponto de vista desta classe emergente.

Com a mudança no modo de vida ao final do período medieval surge uma nova classe social, a burguesia, isto é, os plebeus que se enriqueceram com o crescimento das transações comerciais. Contudo, a estrutura social não havia sido alterada, mantendo-se assim a divisão da sociedade em castas, de ordem hereditária e de pertinências imutáveis. Então, a classe burguesa emergente era prejudicada por tal fato, e sem contar que o lucro era visto como pecado pela Igreja, atrapalhando assim seus interesses. Logo, os burgueses buscavam forças intelectuais para ajudá-los a reformular o pensamento ocidental até então, e é nesta busca que a filosofia moderna
é acolhida e apoiada.

Apesar do período da Idade Moderna ter como início o ano de 1453, foi somente por volta da metade inicial do século XVII que a filosofia moderna tomou sua forma, quando Descartes – um dos principais, senão o principal, dos filósofos Racionalistas Modernos – reformulou o problema tradicional da filosofia, ou seja, a evidência da relação entre a alma, o mundo e Deus, e neste último fundamenta-se a existência do mundo e nele assegura-se a posição da alma, conforme as palavras da apostila da respectiva disciplina. Descartes encara tal problemática através da metafísica da subjetividade – o Sujeito recebendo a tarefa de fundamentar o Ser. Esta subjetividade, ao longo dos séculos seguintes, ao menos na era moderna, foi utilizada como o objeto das novas teorias do conhecimento, sendo reformulada de acordo com a tradição filosófica à qual estava relacionada. Entre estas tradições, dentro do vigente período histórico, pode-se destacar o racionalismo moderno, o empirismo e a filosofia transcendental (ou kantismo)

No racionalismo moderno, segundo a teoria do conhecimento cartesiana, esta metafísica não depende apenas da compreensão da dinâmica dos sentidos e do intelecto na inter-relação entre o Eu e o Mundo, e tem como máxima “penso, logo existo”, com a qual refuta o ceticismo e evidência uma realidade inegável, a do Ser Pensante, e conseqüentemente, ao sujeito quanto enquanto consciência. Sendo esta consciência guiada indubitavelmente somente pela Representação do pensamento, já que, conforme o filósofo, os sentidos e os sonhos em várias ocasiões podem nos enganar. Defendendo o inatismo do conhecimento, apesar de se diferenciar do inatismo defendido por Platão.

No empirismo, tradição de origem pouco posterior, e em oposição, à racionalista, ainda no século XVII com John Locke, argumenta-se a factualidade dos sentidos nos fornecer recepções, obviamente sensíveis, da Realidade pelo sujeito como fundamento do conhecimento humano, sem contudo reduzir a doutrina de Locke ao Sensualismo, pois ao afirmar que todas as idéias vêm da experiência, tem-se nem todas provindos dos sentidos. Opõe-se ao inatismo do conhecimento. Além de Locke ter estabelecido os fundamentos do liberalismo político, um posicionamento político inovador até então, pois o Absolutismo era uma forma de governo que favorecia a classe burguesa, e esta última, como dita anteriormente, era intimamente ligada a filosofia moderna. Tal tradição teve grande força no século XVIII, época em que David Hume prosseguiu consideravelmente os estudos de Locke em busca de um aprofundamento da tradição filosófica empirísta.

Immanuel Kant, e sua filosofia Transcendental, contemporânea a Revolução Francesa, o marco final da era moderna, é de uma temática mais complexa que o racionalismo e empirismo. Opõe-se ao dogmatismo do racionalismo cartesiano e ao ceticismo, e inspira-se em Hume. Nas palavras de José Adelino Maltez, advogado português doutorado em ciência política, em seu website (http://maltez.info/), tem-se a seguinte explanação sobre Kantismo:

"Considera-se que o objeto não passa de um produto da atividade do sujeito, ao contrário do racionalismo cartesiano, que considerava o espírito como uma espécie de placa fotográfica registradora da experiência. O racionalismo de Kant considera o espírito como uma espécie de aparelho de projeção capaz de iluminar as trevas da realidade, salientando que os objetos andam à volta do sujeito, em vez da postura do anterior racionalismo que, pelo contrário, considerava que o sujeito andava à volta dos objetos. Assim, em vez de fatos, passa a haver apenas interpretação de fatos. Porque o espírito é que cria o próprio objeto do conhecimento, porque o método é que cria o objeto. A forma, o a priori, a atividade ordenadora do nosso espírito, é que coordena o a posteriori, a matéria fornecida pela intuição sensível, pelo que só através da forma, das categorias, é que poderia ordenar-se o caos da experiência."

Conclui-se, conforme as breves explicações acima, que a era moderna reformulou a filosofia ocidental em si, onde o Sujeito torna-se o objeto central das teorias do conhecimento, ao contrário das tendências filosóficas anteriores, desprendendo-a convincentemente de sua função de apenas ser uma ferramenta para a teologia e tornando-a mais liberta, e desde de então evoluir com rapidez e projeção jamais vista antes, refletindo o desenvolvimento cada vez mais rápido da nossa realidade social nos últimos séculos.



Obs: texto referente a uma atividade desenvolvida em minha pós-graduação, EaD, em Filosofia.

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